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3 de novembro de 2023
E se tudo o que usássemos fosse sagrado, se tivesse vida? Objetos, quero dizer.
O prato sagrado, o pano do pó sagrado, a camisola de inverno sagrada, o telemóvel sagrado… tudo. Não no sentido de valioso, caro… mas no sentido de único, com história, com propósito. Isso, com espírito! Se olhássemos para aquilo de que nos servimos para viver neste planeta com essa reverência, com essa consciência, com esse encanto?
Parece impossível, tanto quanto inverosímil … mas pensando nisso sabemos que é verdade, que acontece. Toda a gente tem objetos na sua vida para os quais olha dessa forma. Menos provável que seja um pano do pó… Mas são coisas que têm poder, guardam memória, oferecem-nos uma certa energia, aos quais estamos profundamente ligados. Aposto que é fácil lembrar de, pelo menos, um.
Mas o que atiro aqui é a possibilidade de que consigamos olhar assim para tudo o que nos rodeia. Um olhar de gratidão e de respeito pelos objetos com os quais interagimos e nos fazem, de certa forma, viver. Mas é uma ideia que nos faz ficar assoberbados. Pelo menos, eu fico. Mas sabemos que é possível, só o simples facto de concretizar pensamento sobre isso, é prova de que é possível ter consciência sobre a existência de tudo. O que nos impede?
É o mundo que construímos, o que cravamos na nossa noção de sobrevivência, o que valorizamos como espécie. Ser Humano, acima dos outros animais, acima de outros seres vivos, acima das montanhas e das pedras que as fazem. E que fantástica capacidade temos de pensar sobre tudo o que está para além de nós, e de definirmos tudo sem sermos nada mais do que só humanos. Não somos areia, mas sabemos o que é areia e sabemos que não tem vida. Não tem? Um grão de areia da praia tem uma história maior do que qualquer um que sabe decifrar estas palavras, mas toma-mo-la como coisa vã. Somos muito engraçados. Tão superiores e tão limitados.
Para nosso próprio bem, não podemos pensar em cada grão de areia com que nos cruzamos. Quem se vê mais perto desse estado de consciência, fica doente e incapaz. Não fomos desenhados para tão grande habilidade. Mas também não aguentamos viver sem essa conexão suprema com aquilo que nos rodeia. Sabemos cada vez melhor disso. Sabemos já tantas coisas… Eu sou assim também. Incongruente. Quero um mundo melhor e dou passos em falso. E volto ao meu caminho (que, a mim, calhou ocultado).
Andreiaanaif
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